sábado, 14 de agosto de 2010

O PODER DA VISÃO

OS SETE SABERES NECESSÁRIOS À EDUCAÇÃO DO FUTURO

É TEMPO DE MUDANÇAS

UMA SALA COMO ESPAÇO DE VIVIÊNCIA E APRENDIZAGEM

A sala de aula é o espaço de encontro entre alunos, professor(a) e conhecimento.
Nela, vínculos de amizade, cooperação e confiança se constroem e se consolidam, animando o
processo de ensinar e aprender.
Vista dessa forma, a sala de aula é pulsante, viva e dinâmica. As vozes de cada aluno(a) e do(a) professor(a) podem ser ouvidas, ampliadas e aprimoradas, através da interação entre eles
e deles com o conhecimento.
As atualidades permitem que pensemos, então, nas marcas que caracterizam a sala de aula como espaço de vivência e aprendizagem.

Transformar a sala de aula da EJA num espaço de reflexão, de pensamento, nem sempre é uma tarefa fácil. Numa sociedade tão hierarquizada como a brasileira, nossos alunos e alunas, geralmente, desenvolvem as ocupações mais subalternas, nas quais o que mais se tem a fazer é obedecer a uma série de chefes, patrões, gerentes... Treinados a seguir orientações, não é de estranhar que ao chegarem à escola desejem encontrar atividades em que predominem a cópia, a repetição do que disse o(a) professor(a) e outras situações do mesmo tipo. Pensar e tomar decisões é bem diferente e dá muito trabalho, principalmente para quem tem pouco exercício dessa prática
UMA VISÃO DE ESCOLA

A escola é o lugar especialmente estruturado para potencializar a
aprendizagem dos alunos. A escola, poderíamos afirmar, é o cenário no Qual alunos e professores, juntos, vão construindo uma história que modifica, amplia, transforma e interfere em diferentes âmbitos: o da pessoa, o da comunidade na qual está inserida e o da sociedade, numa perspectiva mais ampla.
No lugar de um espaço fechado, com muros altos e portões trancados, defendemos uma escola com muros transponíveis, de portas abertas tanto à cultura popular quanto à cultura erudita.
Os horários e a rigidez da grade curricular são, muitas vezes, obstáculos à entrada e permanência do(a) aluno(a) jovem e adulto na escola. É preciso lembrar, sempre, que esses alunos são em sua imensa maioria trabalhadores, pessoas com responsabilidades familiares, o que imprime algumas restrições e dificuldades para chegar e estar na escola. Assim, torna-se necessário que a
escola proponha uma forma de organização adequada ao público jovem e adulto.
É preciso repensar horários de entrada e saída, os tipos de tarefas extraescolares, as exigências em torno da freqüência, as propostas feitas que não conseguem manter os alunos motivados e atuantes, de tal modo que estar na escola a despeito do cansaço, do adiamento de outros compromissos e da ausência na família seja realmente importante e indispensável.
No começo dos anos de 1960, Paulo Freire levantou uma questão fundamental para a educação: a importância de se trabalhar com temas significativos para os alunos. É a mesma com a qual nos ocupamos agora, neste momento da nossa conversa sobre a sala de aula e a perspectiva dos conteúdos.
Paulo Freire propôs o que chamou de temas geradores: educador e educando debruçam-se sobre aspectos da realidade que, mantendo ligação com o universo conhecido deles, são capazes de impulsioná-los para novas descobertas.
A pergunta: Você já aprendeu algo com seu aluno? Feita a um
grupo de professores, teve entre outras as seguintes respostas:
. “Aprendi que falo muito rápido e que isso dificulta me
compreender.”
. “Aprendi muitas coisas sobre a vida nas pequenas cidades,
principalmente no norte do Brasil. Muitos dos meus alunos
vieram de lá.”
. “Aprendi a calcular mentalmente. E não foi fácil aprender!”
. “Aprendi muitas coisas, mas a mais importante foi aprender a
ter fé na vida e lutar sem perder a esperança.”
. “Aprendi a não faltar à aula desde o dia em que uma aluna me
disse: Hoje estou morta de cansaço, fiz duas faxinas, acordei
muito cedo para marcar consulta no posto de saúde. Pensei
muito em faltar. Mas, quando me lembrei que você ia estar me
esperando, arranjei coragem e vim.”
. “Aprendi a alfabetizar. Antes só imaginava, agora sei de fato.”
. “Aprendi que precisava estudar mais porque descobri que é
preciso ter segurança no que vai ensinar .”

ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO







Na verdade, não há uma forma única e correta de organizar o espaço da sala de aula. Importa que levemos em conta que uma e outra maneira servem a propósitos distintos, favorecem relações entre alunos e entre estes e o(a) professor(a) também distintas.
Ainda sobre o espaço, é importante pensarmos na história que as paredes podem contar. Murais com produções dos alunos, fotografias do grupo em situações de trabalho ou em horários de intervalo e suas histórias de vida, não só favorecem o contato com modelos de escrita, mas dão vida àquele espaço compartilhado e mostram que ali se encontra um grupo em situação de conhecimento.

RODAS DE CONVERSA

Muitos são os temas e propostas que o(a) professor(a) pode trazer para iniciar as rodas de conversa, para que elas possam se configurar como:
. momento em que os alunos emitem suas opiniões sobre um determinado
tema, trazido por eles mesmos ou pelo(a) professor(a);
. momento em que decidem os rumos de um projeto, um estudo, uma
visita a algum lugar significativo da cidade;
. momento em que apreciam uma imagem, uma história;
. momento em que analisam uma notícia, um acontecimento na comunidade
local ou no mundo, uma nova informação;
. momento em que dão notícias acerca de sua própria vida dentro e fora
da escola;
. momento em que avaliam seu percurso no caminho do conhecimento e
do crescimento pessoal e coletivo;
. momento em que comentam as notícias do rádio, do jornal ou da
televisão.
MAPAS DO GRUPO

A confecção de quadros com referências dos alunos pode favorecer a
construção da identidade da sala de aula.
Cada aluno organiza um quadro onde apresenta seu perfil, com dados do tipo:
. ano em que nasceu;
. estado de origem;
. cidade natal;
. estado civil;
. bairro ou vila onde mora;
. quantos filhos tem?
. trabalhos que já realizou;
. o que sabe fazer;
. o que gostaria de aprender;
. como gosta de descansar;
. e outros mais...
A exposição dos quadros permite que o grupo se dê conta dos aspectos que
os aproximam e daqueles que os diferenciam. Professor(a) e alunos podem
criar um quadro geral, chamando a atenção de todos para as marcas comuns e as particularidades de cada um. Dos perfis é possível extrair temas de interesse a partir dos quais a aprendizagem vai se dar.
ENCONTROS CULTURAIS

Um caminho interessante pode ser o que chamamos “encontros culturais”, nos quais cada aluno ou grupo de alunos apresenta ou ensina aquilo que sabe bem e que traduz um aprendizado informal, construído pela experiência, na sua comunidade, em cooperativas ou na família. Uma dança regional, o repente, a música de viola, uma comida tradicional, a confecção de bonecas e outros artesanatos e a grafitagem têm sido temas comuns em diferentes cantos do Brasil.
Os encontros acontecem quinzenalmente, às sextas-feiras, e neles são realizados dois ou três grupos, dependendo da duração de cada um deles.
Os materiais têm sido, em grande parte, conseguidos na escola e outros trazidos pelos alunos.Não é fácil para os alunos, num determinado tempo, se tornarem os professores. Para ajudá-los é importante fazer uma reunião com os oficineiros para conferir os materiais necessários, como pensam em desenvolver o trabalho, se há algum texto, qual é, etc. Esta reunião aumenta a confiança do oficineiro e no início isso é fundamental.
É bom lembrar que diversificar as atividades, na rotina da sala de aula, não significa ter a responsabilidade de criar uma novidade a cada aula, a cada dia.
Falamos de uma diversidade de caminhos, tempos, lugares e de olhar; pensamos numa aula onde a lógica didática mais tradicional dê lugar à experiência inteira do aprender: ver, agir, pensar, fazer, experimentar, com todos os sentidos acionados.

Há alguns anos, alguns professores de didática organizaram o que denominaram de Modalidades Didáticas, numa tentativa de agrupar tipos de atividades que poderiam ser distribuídas numa semana ou quinzena de aula.
Olhar para essas modalidades pode auxiliar o(a) professor(a) a tornar seu planejamento e a rotina de trabalho com seus alunos mais proveitosos.

SEQUÊNCIA DE ATIVIDADES

É um conjunto variado de situações em que os alunos atuam durante um
determinado tempo: um dia, uma semana, todas as terças-feiras, mensalmente
etc. Exemplo: A rotina de classe é uma seqüência diária de atividades.

SEQUÊNCIA DIDÁTICA

A organização de uma SEQÜÊNCIA DIDÁTICA pressupõe conhecimento sobre
o conteúdo a ser aprendido e uma visão didática sobre os processos de
aprendizagem na área de conhecimento a que ele pertence.
Observe os exemplos de seqüência didática presentes na aprendizagem da
leitura e da escrita, em diferentes metodologias que buscam alfabetizar:
. a seqüência de propostas que encontramos nas cartilhas (da letra para
a sílaba, para a palavra, para a frase, para os conjuntos de frases etc.);
. a seqüência de atividades nas quais os alunos aprendem a ler e a
escrever através de palavras relacionadas ao espaço social e
comunitário, em que vivem e partindo delas (como chaves para o
processo de alfabetização) aproximam-se da estrutura alfabética da
língua (no caso da língua portuguesa);
. a seqüência em que os alunos conhecem e aprendem a ler e escrever
textos selecionados em revistas, livros, panfletos e jornais que circulam
no meio sociocultural em que vivem.
Um outro exemplo, em relação à matemática:
A seqüência que envolve exercícios de memorização de tabuadas para que
os alunos possam, depois, aprender a resolver as contas armadas pelos
algoritmos convencionais. É prática ainda comum em muitas escolas.
O(a) professor(a), em cada forma de realizar o seu trabalho, em cada área de conhecimento, realiza uma opção didática, consciente ou não, que fornece os conceitos a partir dos quais planeja, realiza e avalia as propostas que desenvolve com os alunos e alunas em classe.

PROJETOS

PROJETOS são unidades de trabalho, conjuntos de situações de ensino que
permitem aos alunos aproximação a determinados conteúdos curriculares.
Dependendo da abrangência do tema escolhido, podem durar dias, semanas
ou meses.
Os projetos permitem que alunos com diferentes habilidades e competências
atuem juntos com vistas a um objetivo comum. Além disso, no projeto um
mesmo tema pode ser abordado a partir de diferentes pontos de vista,
garantindo um olhar interdisciplinar para o conhecimento em jogo.


Para concluir, podemos ver a prática do PROJETO a partir de diferentes
pontos de vista.
Do ponto de vista do desenvolvimento do trabalho com os alunos
. É um conjunto de situações contextualizadas e de resolução
compartilhada. É um processo de elaboração coletiva.
. Envolve alunos e professores.
. Parte de temas que são conteúdos de conhecimento social e
escolares.
Em relação ao tempo didático que utiliza
. Permite uma organização flexível do tempo: segundo a
aprendizagem pretendida, um projeto pode ocupar apenas alguns
dias ou desenvolver-se ao longo de vários meses.
Em relação à produção dos alunos
. Tem como característica mais conhecida o fato de geralmente
incluir como encaminhamento central uma produção coletiva,
quase sempre, mas não obrigatoriamente, é compartilhada com
outros grupos, dentro ou fora da escola.
Em relação aos conteúdos abordados
. O trabalho por Projetos se desenvolve a partir de temas que
permitem abordar conteúdos de mais de uma área.
A CRIAÇÃO DA ROTINA DE TRABALHO

Vamos observar, agora, a rotina de um grupo de EJA correspondente ao
primeiro segmento do ensino fundamental:

Segunda: Roda de conversa / Leitura de notícias do final de semana / Trabalho Individual com escrita / Trabalho em grupo: projetos / Registro coletivo do dia.
Terça: Roda de conversa e leitura feita pelos alunos / Atividades de matemática em duplas / Trabalho em grupo: projetos / Registro individual do dia.
Quarta : Roda de conversa / Leitura feita pelo professor / Expressões plásticas / Trabalho em grupo: projetos /Registro coletivo do dia.
Quinta: Roda de conversa / Leitura feita pelos alunos e com o professor / Atividades diversificadas (cantos de trabalho) / Trabalho em grupo: projetos / Registro individual do dia.
Sexta: Biblioteca Atividades de escrita matemática / Jogos de Lógica / Roda de conversa: avaliação da semana; indicações de atividades para o final da semana.

O estabelecimento da diferenciação no tratamento didático dos conteúdos de ensino contribui para o desenvolvimento da prática dos professores.
. a rotina garante o registro diário das experiências vividas; por vezes esse registro é feito individualmente, noutras, faz-se um registro coletivo.
. as atividades de língua e matemática aparecem alternadamente, numa
relação de equilíbrio.
. há um equilíbrio, também, entre propostas de trabalho individual, em
pequenos grupos e coletivo.
. as áreas de Ciências, História e Geografia são abordadas nos projetos,
cujos temas variam no decorrer do ano e a partir dos interesses e
necessidades dos alunos.

A partir dos comentários acima, é necessário frisar que uma rotina adequada é aquela que responde ao ritmo, aos interesses e às necessidades dos alunos que compõem cada grupo. Nesse sentido, a
cada nova turma, novo ano ou semestre o(a) professor(a) precisa recriar o tempo e o espaço da sala de aula, em função da demanda específica dessa nova condição. Importa, apenas, que haja na rotina um equilíbrio entre a diversidade e a constância.
A ESCOLHA DAS ATIVIDADES

1. Para acionar conhecimentos, já adquiridos:

. em algumas regiões do Brasil, o plantio do café é feito da seguinte
forma: alterna-se uma muda de café com outra de uma raiz,
normalmente mandioca. Na sua opinião, por que isso é feito?
. a lista abaixo traz o itinerário de alguns ônibus de transporte coletivo,
marque aqueles que você conhece.
. como posso descobrir, de forma rápida, a quantidade de pães que deve
ser comprada para o lanche do noturno (ou da nossa classe)?
. você acha correto colocar fogo num determinado local para poder
plantar nele depois? Que tipos de problemas podemos ter usando essa
técnica?
. escreva um bilhete para seus familiares avisando que pretende visitálos
nas férias.
. por que existe o desemprego? Quais suas conseqüências para as
pessoas e para o nosso país?
2. Atividades para aprender:

. apresentar duas soluções para um mesmo problema, sendo uma correta
e outra não. Pedir para que os alunos marquem a solução correta e
expliquem por que a outra não está.
. ler um texto marcando as informações necessárias para saber sobre um
determinado assunto, ou para responder a algumas questões.
. produzir um texto, carta ou panfleto sobre assunto já conhecido.
. revisar textos escritos.
. experimentar uma nova estratégia de cálculo.
. opinar (oralmente ou por escrito) a respeito de um filme, de uma notícia,
um acontecimento no bairro, cidade ou país.
. elaborar e discutir questões para fazer uma entrevista (com o diretor do
posto de saúde, o prefeito, um escritor).
. ler diferentes versões de uma mesma história e compará-las quanto a
semelhanças e diferenças.
. descobrir as diferenças entre os preços de dois supermercados.
3. Atividades para sistematizar conhecimentos:

. pontuar um trecho de um texto conhecido.
. revisar o texto produzido por um colega de classe.
. escrever um texto de determinado tipo, respeitando suas características
básicas (uma quadra, uma notícia, uma receita, um texto informativo).
. escrever um texto defendendo uma idéia, combatendo outras.
. calcular os gastos para um lanche coletivo na escola.
. completar lacunas: num texto ou numa lista de palavras (olhando, neste
caso, para as questões ortográficas).
. confeccionar um panfleto, a primeira página de um jornal, um índice, etc.
(desde que o jornal e o panfleto tenham sido bastante explorados pelos
alunos).
. interpretar e comentar os dados de um gráfico.
Estes são apenas alguns exemplos de atividades e todas fizeram parte de
uma seqüência de situações didáticas, nas quais os alunos puderam aprender um novo conteúdo.
A partir do trabalho em cada área e com seu grupo, o(a) professor(a) pode
planejar as atividades mais adequadas para cada um dos momentos de
aprendizagem.
Para continuar pensando...

Um exercício interessante para o(a) professor(a) é
a análise dos tipos de atividades feitas ao longo de
um determinado período. Pode ser um mês, um
bimestre, um semestre. Reveja cada uma das
propostas que fez aos alunos, liste-as e, em
seguida, tente agrupá-las quanto a seus propósitos
ou dentro dos tipos de atividades listados acima.
Essa análise nos ajuda a saber que situações
estamos priorizando e quais estão sendo preteridas
na dinâmica de nosso trabalho com os alunos.
Outra pergunta que podemos nos fazer, quando
voltamos às situações e atividades propostas: elas
são adequadas ao público jovem e adulto?
“A criação de uma rotina de trabalho trouxe uma mudança
significativa para meus alunos da EJA. Hoje, consigo perceber com mais clareza o quanto o fato de conhecer antecipadamente as ações que serão realizadas dá a eles a tranquilidade que é a de não ser, a cada momento, surpreendido pelo que não esperavam.
Parece um fato bem simples, mas interferiu muito
no clima geral da sala.”
Dirce Nogueira

“A prática pedagógica é constituída de limites. Limites da realidade dos sujeitos e de seu tempo histórico. O educador, no seu cotidiano, lida com a organização desses limites, na construção de sua rotina.”
Madalena Freire

ALUNOS E ALUNAS DA EJA

VISÃO DE MUNDO DOS ALUNOS E ALUNAS DA EJA

A visão de mundo de uma pessoa que retorna aos estudos depois de adulta,
após um tempo afastada da escola, ou mesmo daquela que inicia sua
trajetória escolar nessa fase da vida, é bastante peculiar. Protagonistas de
histórias reais e ricos em experiências vividas, os alunos jovens e adultos
configuram tipos humanos diversos. São homens e mulheres
que chegam à escola com crenças e valores já constituídos.
Nas cidades, as escolas para jovens e adultos recebem alunos e alunas com
traços de vida, origens, idades, vivências profissionais, históricos escolares,
ritmos de aprendizagem e estruturas de pensamento completamente variados.
A cada realidade corresponde um tipo de aluno e não poderia ser de outra
forma, são pessoas que vivem no mundo adulto do trabalho, com
responsabilidades sociais e familiares, com valores éticos e morais formados a
partir da experiência, do ambiente e da realidade
cultural em que estão inseridos.
Durante muito tempo, a psicologia esteve centrada nos processos de
desenvolvimento de crianças e adolescentes, pois compreendia que o
desenvolvimento terminava com o fim da adolescência e que esta etapa
representava o auge do desenvolvimento humano. Entendia-se que na idade
adulta as pessoas se estabilizavam e na velhice se deterioravam.
“O meu maior desejo é poder terminar meus
estudos, fazer um curso técnico ou mesmo
uma faculdade, pois já estou percorrendo
metade do caminho dos meus desejos.
Espero da vida a capacidade infinita de
realizar com êxito qualquer tarefa e decidir
agir com otimismo e autoconfiança, porque
dias prósperos não vêm por acaso, nascem
através de muita luta e persistência.”
“Acredito que duas das minhas melhores qualidades são a
perseverança e a esperança, porque já passei por inúmeras
Marcelo (aluno de EJA)
PENSE SEMPRE EM
SEUS ALUNOS JOVENS
E ADULTOS COMO
PESSOAS EM
DESENVOLVIMENTO!

PERCEBA COMO SEUS ALUNOS VÃO MUDANDO
SUA MANEIRA DE SER, DE SE COMPORTAR E DE
SE RELACIONAR E COMO VÃO TRANSFORMANDO
SEU OLHAR SOBRE O MUNDO. PROCURE
VALORIZAR AS CONQUISTAS E AS PEQUENAS
VITÓRIAS DE CADA UM DELES!

OS CONHECIMENTOS JÁ ADQUIRIDOS
Os conhecimentos de uma pessoa, que procura tardiamente a escola, são
inúmeros e adquiridos ao longo de sua história de vida. Enfatizaremos, nesta
publicação, duas espécies destes conhecimentos, originados das experiências
de vida dos alunos e alunas: o saber sensível e o saber cotidiano.
O saber sensível diz respeito aquele saber do corpo.
Olhar, escutar, tocar, cheirar e saborear são as aberturas para nosso mundo
interior. Ler e declamar poesia, escutar música, ilustrar textos com desenhos e
colagens, jogar, dramatizar histórias, conversar sobre pinturas e fotografias
são algumas atividades que favorecem o despertar desse saber sensível.
A segunda espécie de saber dos alunos jovens e adultos é o saber cotidiano.
Por sua própria natureza, ele se configura como um saber reflexivo, pois é um
saber da vida vivida, saber amadurecido, fruto da experiência, nascido de
valores e princípios éticos, morais já formados, anteriormente, fora da escola.
O saber cotidiano possui uma concretude, origina-se da produção de soluções
que foram criadas pelos seres humanos para os inúmeros desafios que
enfrentam na vida e caracterizam-se como um saber aprendido e consolidado
em modos de pensar originados do dia-a-dia.

“A aprendizagem escolar, ao promover um conhecimento
legitimado pela sociedade, só se torna significativa para
o(a) aluno(a) se fizer uso e valorizar seus conhecimentos
anteriores, se produzir saberes novos, que façam
sentido na vida fora da escola, se possibilitar a inserção
do jovem e adulto no mundo letrado.”

A PROCURA PELA ESCOLA

Sabemos que a procura de jovens e adultos pela escola não se dá de forma simples. Ao contrário, em muitos casos, trata-se de uma decisão que envolve as famílias, os patrões, as condições de acesso e as distâncias entre casa e escola, as possibilidades de custear os estudos e, muitas vezes, trata-se de
um processo contínuo de idas e vindas, de ingressos e desistências. Ir à escola, para um jovem ou adulto, é antes de tudo, um desafio, um projeto de vida.

“Na primeira semana de aula, eu estava muito assustada, não
entendia nada, tudo era diferente. Cheguei até a pensar em
desistir, mas criei coragem e continuei, e hoje estou muito feliz”.

VALE A PENA PENSAR...
. Na sua experiência, trabalhando com jovens e adultos,
que motivos têm os alunos para chegar à escola? E para
deixar?
. Você já perguntou aos seus alunos o quê eles procuram
na escola? O que representa para eles a retomada da
escolarização? Que dificuldades encontram, dentro e fora
da escola, para concluir seus estudos?
. De que maneira você atua no sentido de proporcionar um
acolhimento a esses alunos, em sua chegada à escola?
. Que trabalho a escola de EJA precisa fazer para que os
alunos nela permaneçam e concluam seus estudos?
. Esta é uma pequena e importante investigação, que pode
contribuir bastante para as mudanças que cada escola
deve imprimir em sua forma de trabalhar, para garantir
um encontro mais efetivo entre ela e seus alunos.

Construir uma escola na qual professores e alunos encontrem-se como sujeitos com a tarefa de provocar e produzir conhecimentos. Conhecimentos sustentados na perspectiva daqueles que aprendem, relativos a saberes
diversos e que contribuem, efetivamente,
para a vida dos alunos.
Os jovens e adultos buscam na escola, sem dúvida, mais do que conteúdos prontos para serem reproduzidos. Como cidadãos e trabalhadores que são, esses alunos querem se sentirem sujeitos ativos, participativos e crescer cultural, social e economicamente.
DIMINUIR A DISTÂNCIA ENTRE O QUE ESPERAM OS ALUNOS E ALUNAS E O QUE A ESCOLA LHES OFERECE É TAREFA QUE SÓ PODE SER CUMPRIDA PELOS PROFESSORES DA EJA !
A BAIXA AUTO-ESTIMA
Uma característica freqüente do(a) aluno(a) é sua baixa auto-estima, muitas vezes reforçada pelas situações de fracasso escolar. A sua eventual passagem pela escola, muitas vezes, foi marcada pela exclusão e/ou pelo insucesso escolar. Com um desempenho pedagógico anterior comprometido, esse aluno volta à sala de aula revelando uma auto-imagem fragilizada, expressando sentimentos de insegurança e de desvalorização pessoal frente aos novos desafios que se impõem.
Será que o fracasso escolar está
na inaptidão dos alunos ou é
gerado pela própria escola?
Como evitar que isso ocorra? Qual é o papel
do(a) professor(a) de EJA nesse processo?
Se vasculharmos nossas próprias lembranças da escola, tanto as boas quanto as más, veremos que o que fica na nossa memória não são só os conteúdos, mas marcantemente os professores. A figura do(a) professor(a) aparece, em nossas lembranças, como aquela que marcou uma predileção por determinada
área do conhecimento, como alguém que nos influenciou em nossas escolhas profissionais, mesmo como alguém com quem nada aprendemos ou até como aquela pessoa com quem não gostaríamos de nos encontrar na rua. Isso nos
ajuda a compreender que o(a) professor(a) exerce um papel determinante e de responsabilidade tanto pelo sucesso quanto pelo fracasso escolar de qualquer um de seus alunos.
Sabemos que o sucesso escolar produz auto-estima e um grande efeito de segurança no(a) aluno(a), enquanto o fracasso causa grandes estragos na
relação consigo mesmo.
A MARCA DO TRABALHO

As alunas e alunos da EJA, em sua maioria, são trabalhadores e, muitas vezes, a experiência com o trabalho começou em suas vidas muito cedo. Nas cidades, seus pais saíam para trabalhar e muitos deles já eram responsáveis, ainda crianças, pelo cuidado da casa e dos irmãos mais novos. Outras vezes, acompanhavam seus pais ao trabalho, realizando pequenas tarefas para auxiliá-los. É comum, ainda, que nos centros urbanos, estes alunos tenham realizado um sem-número de atividades cuja renda completava os ganhos da família: guardar carros, distribuir panfletos, auxiliar em serviços na construção
civil, fazer entregas, arrematar costuras,
cuidar de crianças etc.
Procure fazer um quadro sobre os saberes
de seus alunos
Muitos alunos dizem estar na escola para poder “arrumar um emprego”, “conseguir um trabalho melhor”,
“crescer na profissão”.
O que queremos pensar é justamente nas formas da escola potencializar essa competência que os jovens e adultos já desenvolvem em sua vida cotidiana de
administrar suas finanças e sua sobrevivência.
Vale destacar, que outras motivações levam os
alunos jovens e adultos para a escola. Uma delas é
a satisfação pessoal, a conquista de um direito, a
sensação de capacidade e dignidade que traz
satisfação pessoal.
É comum que os professores proponham trabalhos em grupo. Independente do conteúdo que esteja em jogo. O(a) professor(a) pode olhar esse tipo de
dinâmica como mais um espaço de sociabilidade, de interação social entre os alunos. Propor que pensem juntos sobre um problema enfrentado por todos
na comunidade local pode ser interessante para que os alunos falem sobre sua experiência particular em relação a esse problema e que, juntos, discutam
idéias, compartilhem alternativas e encontrem soluções viáveis. Tratar do que é comum diminui distâncias, aproxima as pessoas e, conseqüentemente contribui para o estreitamento de vínculos e enriquecimento pessoal
O nosso novo assunto será:
O que já sabe sobre o assunto: Que perguntas você tem e gostaria que fossem respondidas durante o estudo:

O objetivo das atividades nas quais os alunos e alunas falam sobre o que já sabem em relação ao que será ensinado tem a finalidade de ajudar o(a) professor(a) a planejar as situações de aprendizagem que seguirão.
Os conhecimentos que os alunos trazem são, muitas vezes, incompletos e cheios de equívocos mas precisamos nos lembrar que nenhum conhecimento é completo e definitivo.
Na sala de aula, o(a) professor(a) sempre ganha quando consegue estabelecer relações entre os novos conhecimentos e os que os alunos já sabiam.

A escola, ao mesmo tempo em que tem a tarefa de apresentar aos alunos os
marcos da cultura humana, deve permitir que seus alunos e a comunidade na
qual se encontra expressem sua cultura particular. Ela deve se perguntar e
permitir que seus alunos respondam:
. que crenças temos?
. que deus ou deuses seguimos?
. que rituais são para nós os importantes?
. que festas celebramos?
. que histórias conhecemos e contamos a nossos filhos e netos?
. que medos carregamos?
. que arte produzimos?
. como nos relacionamos com a natureza?
. como namoramos, casamos, criamos filhos?

Ferramentas fundamentais à aprendizagem e à inclusão no mundo moderno, a leitura e a escrita devem ocupar lugar central na escola. O perfil atual dos alunos das classes de EJA revela, como já afirmamos, que todos possuem
uma experiência com o mundo da escrita ou porque já passaram pela escola, ou por causa de seus filhos ou do mundo do trabalho. Vivendo numa sociedade letrada, os jovens e adultos não alfabetizados têm conhecimentos
sobre os usos e o funcionamento da escrita.
O título 'analfabeto' não identifica um estágio de alfabetização bem definido. Na verdade existem graus de analfabetismo. Cada pessoa vai usando sua capacidade de pensar a partir do que percebe no seu ambiente e sobre o que já aprendeu vai constituindo uma combinação de capacidades. Desta forma não há um grupo homogêneo quanto ao domínio da leitura e escrita.
É importante destacar a idéia de que cada um constrói um corpo de conhecimentos sobre a escrita ou sobre qualquer outro conteúdo com o qual estabelece contato - a partir da interação com o meio, de sua capacidade de reflexão e elaboração, movido, muitas vezes, pela necessidade de compreender, pelo interesse despertado ou por situações de uso e contato. O domínio de um conhecimento não pode ser tratado, então, como uma
competência individual e nem é possível falar de estruturas de pensamento superiores ou inferiores, melhores ou piores. Antes, as diferenças entre um e outro saber são apenas culturais.
O QUE OS JOVENS E ADULTOS “NÃO ALFABETIZADOS”
SABEM SOBRE A ESCRITA
Um pesquisador ofereceu-se para escrever cartas ditadas por pessoas que não escreviam. Seu objetivo era perceber o que estes adultos sabiam sobre a forma de ditar uma carta, com relação ao processo do ditado e à mensagem que deveria ser registrada por escrito. O pesquisador não modificou o conteúdo nem a forma da mensagem, apenas escreveu tudo que era ditado. A análise de aproximadamente 100 cartas revelou que os adultos analfabetos:
. têm conhecimentos do que é ou deve ser uma carta escrita. O que ditam não é linguagem de conversação;
. o que mostra que têm conhecimentos de normas da língua escrita;
. sabem como ditar: não falam simplesmente, mas escolhem as palavras que ditam em função de quem é o destinatário;
. demonstraram capacidade para evitar traços que são próprios da linguagem de conversação no ato de ditar. Não houve repetições que parecessem involuntárias, nem silêncios muito longos;
. foram capazes de usar diferentes tipos de linguagem de acordo com o destinatário: usavam linguagem familiar para as cartas destinadas a parentes ou amigos, linguagem com “fórmulas bonitas” nas cartas de amor e linguagem formal nas cartas mais públicas como em carta para um advogado.
Quem são os alunos e
alunas que procuram a escola?

O que esperam dela?

O que esta escola pode lhes oferecer?

O que pode construir em parceria
com eles?
Afinal, quem ensina a quem?
Ensinar envolve um trabalho intenso de troca de experiências que nem sempre informa só ao aluno.
Quantas vezes o professor precisa ler sobre determinado assunto para dar uma aula, para responder à dúvida de uma criança, para esclarecer uma nova informação?
Quantas vezes alunos mais experientes em seu meio nos transmitem fatos vividos por eles e nem sequer imaginados por nós?
Quantas vezes sentimo-nos inseguros quanto a um conteúdo e precisamos esclarecê-los com colegas ou recorrer ao dicionário para escrever uma determinada palavra?
Quantos cursos, quantas palestras e apostilas são necessários para que estejamos atualizados e interados do processo educacional?
Quanto nós aprendemos por causa de nossos alunos?
Quanto nossos alunos nos ensinam? Quanto nós aprendemos com eles?
Afinal, quem ensina quem?

3º MOMENTO DO CURSO

A INCLUSÃO DIGITAL DA EJA

A inserção das tecnologias de informação e comunicação na educação de
jovens e adultos pode contribuir para:
* A construção de uma cidadania coletiva, dentro dos movimentos sociais,
no processo de geração de identidades político-culturais.
* Mudanças significativas na construção da capacidade cognitiva e social
do aluno
– A escolha da tecnologia adequada deverá ser vinculada aos objetivos
pedagógicos, curriculares e ao grupo de alunos a que se destina.


Tanto quanto a leitura e a escrita convencional, a alfabetização digital
encontra-se ancorada em um fator tecnológico e cultural. [...] Por isso, a
alfabetização digital numa perspectiva freiriana, refere-se tanto ao
reconhe- cimento de saberes básicos à compreensão crítica da realidade,
quanto ao aprendizado de conhecimento de informática para operar
computadores conectados em rede.( MARGARITA GOMES, 2004)


O educador, como quem sabe, precisa reconhecer,
primeiro, nos educandos em processo de saber
mais, os sujeitos, com ele, deste processo e não
pacientes acomodados; segundo, reconhecer que
o conhecimento não é um dado aí, algo imobilizado,
concluído, terminado, a ser transferido por quem o
adquiriu a quem ainda não o possui (FREIRE,1989).


A eficácia da utilização da tecnologia no processo de aprendizagem depende
da sua internalização no fazer docente, pois se relaciona diretamente ao
entendimento de que é necessário que o professor seja competente em utilizar
o ferramental tecnológico que seja mais adequado aos seus objetivos
pedagógicos, uma vez que a tecnologia é um meio para atingi-los e não um
fim em si mesma (LIMA, 2008)

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

EDUCAR

Educar é construir,é libertar o ser humano das cadeias do determinismo neoliberal,reconhecendo que a historia é um tempo de possibilidades.E um "ato comunicante co-participado",Ensinar é algo profundo e dinâmico onde a questão de identidade cultural que atinge a dimensão individual e a classe dos educandos é essencial à "pratica educativa progressista",para analisar a prática pedagógica do professor em relação à autonomia de ser e de saber do educando.Enfatiza a necessidade de respeito ao conhecimento que o aluno traz para a escola,visto ser ele um sujeito social e histórico,quem ensina aprende ao ensinar, e quem aprende ensina ao aprender é ensinando muitos conceitos baseados em sua visão de mundo,mas podem demonstrar que é possível mudar é isto reforce nele ou nela a importância de sua tarefa político-pedagógica.O professor deve descartar como falsa a separação radical entre seriedade docente e afetividade a impressão geral do livro e que Paulo Freire Freire deixa nesta obra, ao meu ver é o significado do ensinar em simples palavras que ensinar é todo um processo de troca entre aluno e professor, onde ambos aprendem,ambos adquirem e sanam duvidas,ambos crescem como seres humanos.E a mensagem de que para ensinar precisamos antes de mais nada, ter a consciência da importância e da beleza desta tarefa, da importância de se poder fazer a diferença num sistema sócio-econômico-político com certeza ás vezes tão opressoras e cruéis aqueles que não dispõe de meios financeiros para obter cultura e informação.Enfim o professor Paulo Freire dá uma aula de ensinar,e nos fornece com um pensamento livre e despojado uma grande inspiração:de que ensinar vale a pena.

domingo, 8 de agosto de 2010