sábado, 14 de agosto de 2010

ALUNOS E ALUNAS DA EJA

VISÃO DE MUNDO DOS ALUNOS E ALUNAS DA EJA

A visão de mundo de uma pessoa que retorna aos estudos depois de adulta,
após um tempo afastada da escola, ou mesmo daquela que inicia sua
trajetória escolar nessa fase da vida, é bastante peculiar. Protagonistas de
histórias reais e ricos em experiências vividas, os alunos jovens e adultos
configuram tipos humanos diversos. São homens e mulheres
que chegam à escola com crenças e valores já constituídos.
Nas cidades, as escolas para jovens e adultos recebem alunos e alunas com
traços de vida, origens, idades, vivências profissionais, históricos escolares,
ritmos de aprendizagem e estruturas de pensamento completamente variados.
A cada realidade corresponde um tipo de aluno e não poderia ser de outra
forma, são pessoas que vivem no mundo adulto do trabalho, com
responsabilidades sociais e familiares, com valores éticos e morais formados a
partir da experiência, do ambiente e da realidade
cultural em que estão inseridos.
Durante muito tempo, a psicologia esteve centrada nos processos de
desenvolvimento de crianças e adolescentes, pois compreendia que o
desenvolvimento terminava com o fim da adolescência e que esta etapa
representava o auge do desenvolvimento humano. Entendia-se que na idade
adulta as pessoas se estabilizavam e na velhice se deterioravam.
“O meu maior desejo é poder terminar meus
estudos, fazer um curso técnico ou mesmo
uma faculdade, pois já estou percorrendo
metade do caminho dos meus desejos.
Espero da vida a capacidade infinita de
realizar com êxito qualquer tarefa e decidir
agir com otimismo e autoconfiança, porque
dias prósperos não vêm por acaso, nascem
através de muita luta e persistência.”
“Acredito que duas das minhas melhores qualidades são a
perseverança e a esperança, porque já passei por inúmeras
Marcelo (aluno de EJA)
PENSE SEMPRE EM
SEUS ALUNOS JOVENS
E ADULTOS COMO
PESSOAS EM
DESENVOLVIMENTO!

PERCEBA COMO SEUS ALUNOS VÃO MUDANDO
SUA MANEIRA DE SER, DE SE COMPORTAR E DE
SE RELACIONAR E COMO VÃO TRANSFORMANDO
SEU OLHAR SOBRE O MUNDO. PROCURE
VALORIZAR AS CONQUISTAS E AS PEQUENAS
VITÓRIAS DE CADA UM DELES!

OS CONHECIMENTOS JÁ ADQUIRIDOS
Os conhecimentos de uma pessoa, que procura tardiamente a escola, são
inúmeros e adquiridos ao longo de sua história de vida. Enfatizaremos, nesta
publicação, duas espécies destes conhecimentos, originados das experiências
de vida dos alunos e alunas: o saber sensível e o saber cotidiano.
O saber sensível diz respeito aquele saber do corpo.
Olhar, escutar, tocar, cheirar e saborear são as aberturas para nosso mundo
interior. Ler e declamar poesia, escutar música, ilustrar textos com desenhos e
colagens, jogar, dramatizar histórias, conversar sobre pinturas e fotografias
são algumas atividades que favorecem o despertar desse saber sensível.
A segunda espécie de saber dos alunos jovens e adultos é o saber cotidiano.
Por sua própria natureza, ele se configura como um saber reflexivo, pois é um
saber da vida vivida, saber amadurecido, fruto da experiência, nascido de
valores e princípios éticos, morais já formados, anteriormente, fora da escola.
O saber cotidiano possui uma concretude, origina-se da produção de soluções
que foram criadas pelos seres humanos para os inúmeros desafios que
enfrentam na vida e caracterizam-se como um saber aprendido e consolidado
em modos de pensar originados do dia-a-dia.

“A aprendizagem escolar, ao promover um conhecimento
legitimado pela sociedade, só se torna significativa para
o(a) aluno(a) se fizer uso e valorizar seus conhecimentos
anteriores, se produzir saberes novos, que façam
sentido na vida fora da escola, se possibilitar a inserção
do jovem e adulto no mundo letrado.”

A PROCURA PELA ESCOLA

Sabemos que a procura de jovens e adultos pela escola não se dá de forma simples. Ao contrário, em muitos casos, trata-se de uma decisão que envolve as famílias, os patrões, as condições de acesso e as distâncias entre casa e escola, as possibilidades de custear os estudos e, muitas vezes, trata-se de
um processo contínuo de idas e vindas, de ingressos e desistências. Ir à escola, para um jovem ou adulto, é antes de tudo, um desafio, um projeto de vida.

“Na primeira semana de aula, eu estava muito assustada, não
entendia nada, tudo era diferente. Cheguei até a pensar em
desistir, mas criei coragem e continuei, e hoje estou muito feliz”.

VALE A PENA PENSAR...
. Na sua experiência, trabalhando com jovens e adultos,
que motivos têm os alunos para chegar à escola? E para
deixar?
. Você já perguntou aos seus alunos o quê eles procuram
na escola? O que representa para eles a retomada da
escolarização? Que dificuldades encontram, dentro e fora
da escola, para concluir seus estudos?
. De que maneira você atua no sentido de proporcionar um
acolhimento a esses alunos, em sua chegada à escola?
. Que trabalho a escola de EJA precisa fazer para que os
alunos nela permaneçam e concluam seus estudos?
. Esta é uma pequena e importante investigação, que pode
contribuir bastante para as mudanças que cada escola
deve imprimir em sua forma de trabalhar, para garantir
um encontro mais efetivo entre ela e seus alunos.

Construir uma escola na qual professores e alunos encontrem-se como sujeitos com a tarefa de provocar e produzir conhecimentos. Conhecimentos sustentados na perspectiva daqueles que aprendem, relativos a saberes
diversos e que contribuem, efetivamente,
para a vida dos alunos.
Os jovens e adultos buscam na escola, sem dúvida, mais do que conteúdos prontos para serem reproduzidos. Como cidadãos e trabalhadores que são, esses alunos querem se sentirem sujeitos ativos, participativos e crescer cultural, social e economicamente.
DIMINUIR A DISTÂNCIA ENTRE O QUE ESPERAM OS ALUNOS E ALUNAS E O QUE A ESCOLA LHES OFERECE É TAREFA QUE SÓ PODE SER CUMPRIDA PELOS PROFESSORES DA EJA !
A BAIXA AUTO-ESTIMA
Uma característica freqüente do(a) aluno(a) é sua baixa auto-estima, muitas vezes reforçada pelas situações de fracasso escolar. A sua eventual passagem pela escola, muitas vezes, foi marcada pela exclusão e/ou pelo insucesso escolar. Com um desempenho pedagógico anterior comprometido, esse aluno volta à sala de aula revelando uma auto-imagem fragilizada, expressando sentimentos de insegurança e de desvalorização pessoal frente aos novos desafios que se impõem.
Será que o fracasso escolar está
na inaptidão dos alunos ou é
gerado pela própria escola?
Como evitar que isso ocorra? Qual é o papel
do(a) professor(a) de EJA nesse processo?
Se vasculharmos nossas próprias lembranças da escola, tanto as boas quanto as más, veremos que o que fica na nossa memória não são só os conteúdos, mas marcantemente os professores. A figura do(a) professor(a) aparece, em nossas lembranças, como aquela que marcou uma predileção por determinada
área do conhecimento, como alguém que nos influenciou em nossas escolhas profissionais, mesmo como alguém com quem nada aprendemos ou até como aquela pessoa com quem não gostaríamos de nos encontrar na rua. Isso nos
ajuda a compreender que o(a) professor(a) exerce um papel determinante e de responsabilidade tanto pelo sucesso quanto pelo fracasso escolar de qualquer um de seus alunos.
Sabemos que o sucesso escolar produz auto-estima e um grande efeito de segurança no(a) aluno(a), enquanto o fracasso causa grandes estragos na
relação consigo mesmo.
A MARCA DO TRABALHO

As alunas e alunos da EJA, em sua maioria, são trabalhadores e, muitas vezes, a experiência com o trabalho começou em suas vidas muito cedo. Nas cidades, seus pais saíam para trabalhar e muitos deles já eram responsáveis, ainda crianças, pelo cuidado da casa e dos irmãos mais novos. Outras vezes, acompanhavam seus pais ao trabalho, realizando pequenas tarefas para auxiliá-los. É comum, ainda, que nos centros urbanos, estes alunos tenham realizado um sem-número de atividades cuja renda completava os ganhos da família: guardar carros, distribuir panfletos, auxiliar em serviços na construção
civil, fazer entregas, arrematar costuras,
cuidar de crianças etc.
Procure fazer um quadro sobre os saberes
de seus alunos
Muitos alunos dizem estar na escola para poder “arrumar um emprego”, “conseguir um trabalho melhor”,
“crescer na profissão”.
O que queremos pensar é justamente nas formas da escola potencializar essa competência que os jovens e adultos já desenvolvem em sua vida cotidiana de
administrar suas finanças e sua sobrevivência.
Vale destacar, que outras motivações levam os
alunos jovens e adultos para a escola. Uma delas é
a satisfação pessoal, a conquista de um direito, a
sensação de capacidade e dignidade que traz
satisfação pessoal.
É comum que os professores proponham trabalhos em grupo. Independente do conteúdo que esteja em jogo. O(a) professor(a) pode olhar esse tipo de
dinâmica como mais um espaço de sociabilidade, de interação social entre os alunos. Propor que pensem juntos sobre um problema enfrentado por todos
na comunidade local pode ser interessante para que os alunos falem sobre sua experiência particular em relação a esse problema e que, juntos, discutam
idéias, compartilhem alternativas e encontrem soluções viáveis. Tratar do que é comum diminui distâncias, aproxima as pessoas e, conseqüentemente contribui para o estreitamento de vínculos e enriquecimento pessoal
O nosso novo assunto será:
O que já sabe sobre o assunto: Que perguntas você tem e gostaria que fossem respondidas durante o estudo:

O objetivo das atividades nas quais os alunos e alunas falam sobre o que já sabem em relação ao que será ensinado tem a finalidade de ajudar o(a) professor(a) a planejar as situações de aprendizagem que seguirão.
Os conhecimentos que os alunos trazem são, muitas vezes, incompletos e cheios de equívocos mas precisamos nos lembrar que nenhum conhecimento é completo e definitivo.
Na sala de aula, o(a) professor(a) sempre ganha quando consegue estabelecer relações entre os novos conhecimentos e os que os alunos já sabiam.

A escola, ao mesmo tempo em que tem a tarefa de apresentar aos alunos os
marcos da cultura humana, deve permitir que seus alunos e a comunidade na
qual se encontra expressem sua cultura particular. Ela deve se perguntar e
permitir que seus alunos respondam:
. que crenças temos?
. que deus ou deuses seguimos?
. que rituais são para nós os importantes?
. que festas celebramos?
. que histórias conhecemos e contamos a nossos filhos e netos?
. que medos carregamos?
. que arte produzimos?
. como nos relacionamos com a natureza?
. como namoramos, casamos, criamos filhos?

Ferramentas fundamentais à aprendizagem e à inclusão no mundo moderno, a leitura e a escrita devem ocupar lugar central na escola. O perfil atual dos alunos das classes de EJA revela, como já afirmamos, que todos possuem
uma experiência com o mundo da escrita ou porque já passaram pela escola, ou por causa de seus filhos ou do mundo do trabalho. Vivendo numa sociedade letrada, os jovens e adultos não alfabetizados têm conhecimentos
sobre os usos e o funcionamento da escrita.
O título 'analfabeto' não identifica um estágio de alfabetização bem definido. Na verdade existem graus de analfabetismo. Cada pessoa vai usando sua capacidade de pensar a partir do que percebe no seu ambiente e sobre o que já aprendeu vai constituindo uma combinação de capacidades. Desta forma não há um grupo homogêneo quanto ao domínio da leitura e escrita.
É importante destacar a idéia de que cada um constrói um corpo de conhecimentos sobre a escrita ou sobre qualquer outro conteúdo com o qual estabelece contato - a partir da interação com o meio, de sua capacidade de reflexão e elaboração, movido, muitas vezes, pela necessidade de compreender, pelo interesse despertado ou por situações de uso e contato. O domínio de um conhecimento não pode ser tratado, então, como uma
competência individual e nem é possível falar de estruturas de pensamento superiores ou inferiores, melhores ou piores. Antes, as diferenças entre um e outro saber são apenas culturais.
O QUE OS JOVENS E ADULTOS “NÃO ALFABETIZADOS”
SABEM SOBRE A ESCRITA
Um pesquisador ofereceu-se para escrever cartas ditadas por pessoas que não escreviam. Seu objetivo era perceber o que estes adultos sabiam sobre a forma de ditar uma carta, com relação ao processo do ditado e à mensagem que deveria ser registrada por escrito. O pesquisador não modificou o conteúdo nem a forma da mensagem, apenas escreveu tudo que era ditado. A análise de aproximadamente 100 cartas revelou que os adultos analfabetos:
. têm conhecimentos do que é ou deve ser uma carta escrita. O que ditam não é linguagem de conversação;
. o que mostra que têm conhecimentos de normas da língua escrita;
. sabem como ditar: não falam simplesmente, mas escolhem as palavras que ditam em função de quem é o destinatário;
. demonstraram capacidade para evitar traços que são próprios da linguagem de conversação no ato de ditar. Não houve repetições que parecessem involuntárias, nem silêncios muito longos;
. foram capazes de usar diferentes tipos de linguagem de acordo com o destinatário: usavam linguagem familiar para as cartas destinadas a parentes ou amigos, linguagem com “fórmulas bonitas” nas cartas de amor e linguagem formal nas cartas mais públicas como em carta para um advogado.
Quem são os alunos e
alunas que procuram a escola?

O que esperam dela?

O que esta escola pode lhes oferecer?

O que pode construir em parceria
com eles?
Afinal, quem ensina a quem?
Ensinar envolve um trabalho intenso de troca de experiências que nem sempre informa só ao aluno.
Quantas vezes o professor precisa ler sobre determinado assunto para dar uma aula, para responder à dúvida de uma criança, para esclarecer uma nova informação?
Quantas vezes alunos mais experientes em seu meio nos transmitem fatos vividos por eles e nem sequer imaginados por nós?
Quantas vezes sentimo-nos inseguros quanto a um conteúdo e precisamos esclarecê-los com colegas ou recorrer ao dicionário para escrever uma determinada palavra?
Quantos cursos, quantas palestras e apostilas são necessários para que estejamos atualizados e interados do processo educacional?
Quanto nós aprendemos por causa de nossos alunos?
Quanto nossos alunos nos ensinam? Quanto nós aprendemos com eles?
Afinal, quem ensina quem?

Um comentário:

  1. Cada dia que passa os encrontros vão ficando melhor. Agente estamos aprendendo cada dia mais
    e as fotos estão lindas
    vc estar de parabens

    bjs

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